22 de dez. de 2010

AO MEU AVÔ...

Resolvi publicar, em homenagem ao meu grande avô, que faleceu em 17/12/2010 (um mês antes de completar 92 anos), uma carta que escrevi no dia que ele completou 90 anos (2009)...e que graças a Deus pude ler para ele com saúde, sorrindo e cantando parabéns...e "tirando um barato" dos amigos e familiares presentes, equilibrando sua velinha de 90 anos com palitos de dentes! rsrs...pra vc...sempre...

O NOSSO AVÔ

AVÔ – no dicionário - substantivo masculino: o pai do pai ou o pai da mãe.

O pai do pai...o pai da mãe...só? e pronto? Ponto final?
Ah, esse tal de “Aurélio” não teve avô...ou se teve, não era igual ao nosso avô.

Se o dicionário fosse escrito por nós, o verbete seria assim:

Avô:
É aquele que foi chamado por várias vezes de cocô, ao invés de vovô, logo que a neta aprendeu a falar. Por exemplo, na sala do médico, a netinha chorando: mãe, eu quero cocôôôôô...E nem por isso ele a deserdou!

É quem ensinou a comer pão com manteiga e açúcar e achar isso muito normal.
Ensinou também a achar uma delícia levar pão com ovo para o lanche na escola.

É a pessoa que não se importava em buscar os netos na escola, mesmo quando tinha acabado de deixá-los lá e eles fingiam uma dor de barriga ou de cabeça, só para chegarem mais cedo na casa do vovô e da vovó.

É aquele que comprou para o neto o primeiro vídeo game, a primeira bicicleta e tantos outros primeiros desejos e brinquedos.

É quem comprava um anel de plástico para a neta toda sexta-feira quando a levava no sacolão, o que virou tradição e a fez “gostar” de feira.

É quem deixou por várias vezes a casa muito cheirosa, com aroma de pão com goiabada, pão com presunto e queijo, roscas, bolinhos de chuva e tantas outras produções deliciosas.

É aquele que pintou para os netos um quadro - com os “Dois Porquinhos” (e não me pergunte onde estava o terceiro porco), o Pato Donald e um ser não-identificado, (apesar do pintor insistir que aquilo era um índio) – e que conseguiu que 30 anos depois os “netinhos” ainda considerem aquilo uma obra de arte.

É quem ensinou a cantar, decorar e gostar (pasmem, gostar!!!) da música do Alvarenga e Ranchinho, que o Rolando Boldrin canta, “Romance de uma caveira”...aqueeeeela: “Eram duas caveiras que se amavam...” e por aí vai. Quem também cantou e tocou muito violão para os netos ouvirem e valorizarem as músicas antigas e boas.

É aquele que fez casinha de madeira, cadeira de penico (acreditem!!!), mesinha pra fazer lição e tantas outras artes da marcenaria para os netos.

É quem foi padrinho do casamento do neto e estava muito chique de terno e gravata...e quem um tempo depois foi visitar o bisneto no hospital no dia em que nasceu e orgulhoso pegou o bebê no colo, torcendo para que seja “um pouco menos bagunceiro” que o próprio neto.

É aquele que ensinou os netos a jogar buraco...e a ganhar de todo mundo.

É quem colocou espelhos espalhados pelos cantos da garagem só para a neta não ralar o carro novo (mesmo jurando que confia nela dirigindo!!!)

É quem diz que mudou de time...virou Azulão e agora torce pro São Caetano, porque está cansado de ver o Corinthians perder...(mesmo que a neta saiba que é pura provocação).

É quem te deu a família mais linda do mundo de presente.

Avô, é quem faz exames de saúde e com 90 anos, quando pega o resultado, diz que os médicos deveriam lhe devolver o dinheiro, porque “estes exames nunca dão nada”!

Pai da mãe?
Só se for o avô do “Aurélio”...o nosso avô, é muito mais.
É quem nos ensinou o significado profundo de algumas palavras, sem precisar procurá-las no dicionário:

Respeito – Dignidade – Família – Honestidade

“Vô...descobrimos que nem todas as palavras do dicionário podem expressar o que queremos dizer hoje...então, o que podemos dizer é:

OBRIGADO!
OBRIGADO POR VOCÊ EXISTIR!
André e Ana Paula

(Lembrança dos 90 anos de Roque Silveira)
16/01/2009

2 comentários:

  1. Imagino a reação dele qdo vc leu o texto... Vc tem muita sorte Ana, por Seu Roque ter feito parte da sua vida... e ele mais ainda, por ter tantas pessoas que reconheciam o seu valor. Bj no coração!

    Ana Cris

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  2. Paula, não conheci esse grande homem que foi teu avô, mas pude reconhecer em suas palavras muitas coisas boas de meu avô. Lindas palavras, lindas lembranças e lágrimas de saudades de um tempo que temos agora guardados em nosso coração e em nossas mentes, que possamos ser no futuro, uma parte deles, uma boa parte.
    Parabéns pelas palavras.

    Bjus
    Marcio Correa

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Obrigada por ler...